sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sobis volta disposto a ‘arrebentar’ na luta pelo tri

Rafael Sobis disputou duas Libertadores. E ganhou as duas. E marcou três gols em finais. E virou, entre os colorados, um dos maiores descobridores da América. E quer tudo de novo. De volta ao time titular, o atacante com faro de Libertadores parte em busca de seu terceiro caneco continental. Com contrato perto de terminar e futuro incerto no clube, Sobis se diz disposto a aproveitar o tempo que resta no Beira-Rio - e depois torcer pela renovação.

- Tenho que arrebentar.

O jogador parece ter iniciado o processo de retorno àquela fase que virou um dos símbolos do título de 2006. Em três jogos desde que virou titular, ele marcou três gols, um deles justamente pela Libertadores, contra o Emelec. Agora, carrega para a fase de mata-mata toda a confiança de que o Inter pode repetir o feito. Sobis quer manter os 100% de aproveitamento em suas lutas pelo torneio sul-americano.

Em entrevista para o GLOBOESPORTE.COM, o atleta analisa seu momento, resgata as lembranças dos títulos conquistados, fala sobre o Mundial perdido e explica a comemoração quase imóvel do gol marcado sobre o Emelec. Confira abaixo a íntegra da conversa, realizada nesta quinta-feira em um shopping center de Porto Alegre.
Você participou de duas Libertadores. E venceu as duas. Agora, vai entrar na fase de mata-mata da terceira. Lembrando de como foram para você as outras duas edições, como se sente agora?
Sobis volta a entrar na Libertadores no decorrer da
disputa (Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)

São situações diferentes. Mas é claro que estou me sentindo bem, ainda mais agora, que voltei a jogar. Parece que é minha primeira Libertadores. É uma competição diferente. Quando tem um jogo de Libertadores, a motivação é diferente. Você já pensa na Champions League, que é a comparação que temos lá fora. É um momento mágico, cara: entrar no campo, escutar o hino brasileiro, enfrentar um adversário que não tem o mesmo idioma. Isso valoriza a competição. Eu joguei duas e ganhei duas. Estou na terceira, vivo, entrando em um mata-mata com uma equipe que tem condições de ser campeã. Isso me motiva mais, porque quero seguir nessa média de jogar e ganhar.

Você mergulha nesta Libertadores durante sua realização, já que não era titular nos primeiros jogos, por problema de lesão. O mesmo aconteceu em 2006, quando você também se machucou, e em 2010, quando retornou ao clube na reta final. É mais complicado quando é assim?

Entrar no meio do caminho é difícil. É a mesma coisa que entrar no meio do jogo. O ritmo é diferente. Essa é a Libertadores em que eu volto antes. Em 2006, fui pegar o ritmo na parada para a Copa. Eu me machuquei, fui aos trancos e barrancos, e foi na parada, ali nas quartas de final, que eu engrenei. O ano passado nem conta. Só joguei a final. Agora, estou chegando antes. Espero tirar proveito disso, não me machucar mais, me cuidar e seguir crescendo junto com o time.

Você chegou a temer não ter uma participação mais efetiva nessa Libertadores? Porque você virou titular nos últimos jogos. Com o Roth, você era reserva, e o time tinha só um atacante.

Não digo temer, mas ficava me perguntando: “P..., será que vou jogar? Como vai ser?”. Porque não tem como prever o futuro. Mas o cara se pergunta: “Vai dar ou não?”. Mas o futebol tem dessas coisas. Tem reviravolta, tem lesões... Do jeito que eu saí por lesão, alguém pode sair. Você se pergunta, mas tem esperança. Foi o que aconteceu comigo. Foi (contra o Emelec) meu primeiro jogo como titular. Isso marca, isso é bom. O pessoal fala que eu marco gols em momentos decisivos, e esse jogo foi complicado, porque se desse uma desgraça, poderíamos cair fora. Em um momento decisivo, pude fazer um gol, contra um time do Equador, como era a LDU em 2006. São coisas boas. Estou conseguindo dar sequência.Antes de marcar contra o Emelec, você havia feito dois gols contra o Canoas. Esses gols lhe servem como sinal de que você está voltando a seu melhor momento?

Não posso me iludir, porque isso causa acomodação. Foi bom, foi ótimo. São três jogos e três gols. Muita gente pedia para eu voltar a jogar. Por muitas situações, não joguei. Quando joguei, estava pronto, consegui ajudar. Isso é bom, porque você consegue retribuir o que recebia de carinho, de pedidos. Estou longe do meu melhor. Quero melhorar sempre. E tem uma Libertadores aí. As chances são grandes. Nosso time é bom. Nosso time é respeitado. Temos que jogar para vencer.

Por que você não comemorou o gol marcado contra o Emelec?


Estão fazendo uma polêmica por causa de uma comemoração. Não quero criar polêmica em cima disso. Comemorei muitos gols de muitas formas. Essa foi mais uma. Veio na minha cabeça comemorar daquela forma, ou não comemorar. É bom deixar claro, porque foi só algo que veio na minha cabeça, do mesmo jeito que já peguei a bandeira e dei a volta no campo, ou quando comemorei sozinho no ano passado. Não sou um cara que entro pensando em comemorar de determinado jeito. Não sei de onde tiram toda essa loucura.

A impressão que ficou é de que poderia ter alguma relação com as vaias da torcida no primeiro tempo...

A torcida vaiou o time, cara. Já peguei 20 mil pessoas me vaiando no Beira-Rio em uma época. Isso não pode abalar. O futebol é assim. Tem gente que vai vaiar. Tinha quase 40 mil pessoas, e não foi todo mundo. Foram só alguns. Mas não tem nada a ver. Foi só coincidência. No lance, até achei que estava impedido, porque estava muito sozinho. Olhei para o bandeira, aí o Damião veio, e eu comemorei ali mesmo. Muita gente disse que comemorei sozinho. Jamais. Tem fotos na internet que mostram quatro, cinco jogadores abraçados. São coisas que se criam não sei de onde. Não sei como vou comemorar meu próximo gol, e assim vai ser.

Bom, como falamos antes, você já tem duas experiências de Libertadores, e com dois títulos. Por duas vezes, você sentiu o ambiente, o time, o elenco de um clube que seria campeão. Como você sente o Inter versão 2011 na Libertadores?
Experiência do elenco é aposta do jogador
(Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)

Tem um negócio muito positivo, que é a manutenção de quase todo o time do ano passado para cá. Eu, em 2006, fui um dos que saiu. Aí outros saem, vão para outro lugar, outros chegam. Agora, não. Quase todos os jogadores ali foram campeões da América. Isso conta muito em uma Libertadores. Em 2004 (na Sul-Americana), a gente pecou nisso. Saímos de competições por não ter essa bagagem. Enfrentamos o Boca, que era o bambambã. Se tivéssemos mais experiência, poderíamos ter ganho aquela Sul-Americana. É muito importante manter o time, porque o pessoal sabe como se joga, sabe as adversidades que vamos enfrentar. Já mostramos, na primeira fase, que nosso time está forte.

Que te pareceu o Peñarol como adversário nas oitavas de final?

Nessa fase, não tem como escolher adversário. Se quer ser campeão, tem que passar por cima. No ano passado, teve Estudiantes nas quartas. Meu Deus, era uma final antecipada. Tinha que passar, e passamos. Em 2006, pegamos o Nacional. Não pode escolher adversário. De repente, pega um time teoricamente mais fraco e perde. É bom, porque isso valoriza a competição. O Peñarol tem uma tradição gigante. Se passarmos, pode ter Gre-Nal. Isso valoriza a competição, valoriza todos nós, aqui do Sul.

Pintou forte essa possibilidade de Gre-Nal na Libertadores. Serão, antes mesmo de a bola rolar, os clássicos mais importantes da história dos dois clubes. Como é para o jogador essa expectativa?

Hoje mesmo, só com a possibilidade, já tem muita gente comentando. No momento, temos que deixar isso de lado. No momento, o Gre-Nal não existe. Teremos que pensar quando tivermos que encará-los, se isso acontecer. Por enquanto, temos que pensar no Juventude, um jogo importantíssimo. Temos só jogos decisivos, com o mata-mata do Gauchão, também a Libertadores. Temos que pensar passo a passo. Se tiver Gre-Nal lá na frente, vamos nos preparar como tivermos que nos preparar.

Uma das imagens mais emblemáticas do Mundial é você, um dia depois do jogo contra o Mazembe, chorando no hotel. Você já conseguiu esquecer o Mundial?
Um dia depois, atleta chora derrota para o Mazembe em Abu Dhabi (Foto: Jefferson Bernardes / VIPCOMM)

Já. Do mesmo jeito que esqueci o título da Libertadores, do mesmo jeito que tenho que esquecer o gol do jogo do passado... Isso é para o lado bom e para o lado ruim. O jogador tem que provar sempre. Aquilo aconteceu, passou, e agora é pensar para a frente. Temos uma Libertadores aqui, com a possibilidade de talvez jogar um Mundial de novo. Não podemos viver de passado em títulos e também em derrotas. Mas, meu, a vida segue. É assim que tem que ser.

Os lances daquele jogo não lhe assombram? Você não fica pensando neles?

Jamais, jamais, jamais. Trabalhamos da melhor forma possível, fizemos as coisas da melhor forma possível, nos concentramos da melhor forma possível. Não teve menosprezo nenhum. Quem esteve próximo viu que nosso time se preparou muito. Não aconteceu porque não aconteceu, cara. A gente tem que levar em consideração que do outro lado, independente de onde seja, teve um time que também se preparou pra caramba, fez por merecer estar no Mundial. Tem que ter um vencedor. Infelizmente, a zebra aconteceu pela primeira vez com a gente. Mas quem está no futebol sabe que não é zebra. Não tem bobo. Éramos favoritos, tínhamos que vencer, mas infelizmente não aconteceu. Fui marcado por ser campeão da Libertadores e vou ser marcado por perder o Mundial. Mas a vida segue. Se ficarmos pensando nisso, a gente não vive mais.

Como está, de tua parte, o processo de renovação com o Inter?
Sobis pretende renovar contrato com o Inter (Foto: Alexandre Alliatti / Globoesporte.com)

Entre eu e o Inter, já foi conversado. É o primeiro passo. A partir daí, a partir do momento em que mostrei o que quero, é esperar o momento certo de falar com o pessoal lá fora (Al-Jazira, dos Emirados Árabes). Eu vou deixar minha cabeça no lugar, pensar nos jogos, tentar produzir o máximo possível para fazer valer esse investimento, caso o Inter tenha que fazer. Não passa por minha cabeça se vou ficar ou não. Tenho dois meses em que tenho que arrebentar. Quero ganhar a Libertadores. Se eu tiver que ir embora, que vá com mais um título importante.

Você tem as duas Libertadores e não tem o Mundial. Algo te diz que você vai ser campeão do mundo? É um sentimento que você tem?

Não sei. Quando perdi, me fiz essa pergunta. Quando saí, em 2006, perdi a possibilidade de jogar o Mundial. No ano passado, veio o título da Libertadores, e pensei: “Opa, é para eu ganhar o Mundial. Não é possível cair na minha mão a possibilidade de novo”. Sinceramente, não penso mais nisso. Se for para acontecer, vai acontecer. Quero pensar no momento. Se ganharmos a Libertadores, sabendo que teremos um Mundial, poderemos voltar a sonhar. No momento, o Mundial é um sonho distante, um sonho que não existe, porque passa pela Libertadores, que é o que estamos vivendo agora.

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